Acre registra mais de 70 vítimas fatais de afogamento em 2023, aponta Bombeiros — Foto: Arquivo/Corpo de Bombeiros do Acre
Em um ano em que o Acre registrou uma das maiores enchentes de sua história e também estiagem prolongada, os acidentes com vítimas fatais em rios e igarapés aumentaram. Um levantamento feito pelo Corpo de Bombeiros, a pedido do g1, aponta que este ano, entre janeiro e dia 15 de outubro, foram registrados 74 mortes por afogamento em todo o estado.
No período de cheia, são comuns os acidentes com embarcações e ribeirinhos, assim como relacionados a moradores afetados pelas enchentes dos rios. Já no período de seca e altas temperaturas, os rios formam bancos de areia e esses locais atraem muitos banhistas, ocasionando também os afogamentos.
O número de vítimas fatais por afogamento é 7,2% maior que o registrado no mesmo período de 2022, quando 69 pessoas morreram no estado em decorrência desses acidentes.
Os dados apontam, em menos de 10 meses, as mortes por afogamento no Acre praticamente alcançaram o total dos registros no ano passado. Em 2022, 79 foram vítimas de afogamento.
Número de mortes por afogamento em menos de 10 meses de 2023 praticamente alcança o total dos registros no ano passado — Foto: Reprodução/Defesa Civil
Medidas de segurança
O sargento Bruno Lira de Vasconcelos, do Corpo de Bombeiros do Acre, explica que algumas medidas podem ser tomadas para evitar essas tragédias.
“Para se evitar acidentes e mortes por afogamento, a gente tem que prevenir e isso evita muitos transtornos. O que acontece? Em balneários, em locais de banho, geralmente é necessário a presença de guarda-vidas, tanto militares quanto civis. O importante é que eles sejam treinados e capacitados para tal. Outra coisa importante, se você não conhece a água que você vai entrar e não tem ninguém que conheça com você, não entre, porque ali pode ter galhos, podem ter áreas de correnteza forte que lhe puxem para baixo e você não consiga mais retornar, o que ocasiona o acidente fatal, como a gente tem visto. Não sabemos a periculosidade dos seres que estão dentro daquelas águas. Então tudo isso é importante ser observado antes de a pessoa entrar naquelas águas desconhecidas”, afirmou Vasconcelos.
Vasconcelos fala ainda que no período de cheia dos rios, a correnteza acaba movendo para diversos lugares os mais variados tipos de objetos como pedras, galhos e outros que são lançados nas águas e que isso também pode ocasionar os acidentes.
“No período de estiagem, a pessoa vai nadar ali, muitas vezes até conhece o local, mas não sabe que tem um objeto novo ali, e que pode enganchar nela quando for mergulhar. E a pessoa não consegue retornar para a superfície, o que ocasiona na triste morte por afogamento. Então, o que a gente sempre diz é que não pode se confiar e dar muito crédito a águas escuras. Então, nos banhos, devemos evitar muito os mergulhos, porque isso pode ocasionar problemas muito graves. E também a questão de área de delimitação de banhos que os guarda-vidas civis ou militares impõem. São áreas que eles avaliam no dia que eles vão fazer o serviço e ali a pessoa tem que obedecer essa área. Tem muita gente que acha que porque sabe nadar pode passar da área de delimitação”, disse.
Com relação às embarcações, o bombeiro orienta que sempre seja utilizado colete salva-vidas, mesmo que a pessoa saiba nadar ou que o local seja raso e que seja respeitado o limite de capacidade das embarcações.
Alguns dos casos
Entre as mortes por afogamento registradas este ano está a do estudante de medicina João Gabriel dos Santos Lopes, de 19 anos, em julho, no Rio Acre, na cidade de Brasileia, interior do estado. O Corpo de Bombeiros foi acionado e, após pouco mais de duas horas, encontraram o corpo do rapaz.
A mãe do jovem relatou aos bombeiros que estava tomando banho com o filho na Praia do Urubu quando eles decidiram atravessar o rio em sentidos opostos. Quando a mulher voltou à margem e saiu do rio, percebeu que o jovem estava se debatendo, se afogando e depois sumiu nas águas.
Também em julho, dois meninos morreram afogados no Rio Japiim, em Mâncio Lima, no interior do Acre. Segundo o Corpo de Bombeiros de Cruzeiro do Sul, que foi acionado para atender a ocorrência, Samuel, de 11 anos, teria caído em um local com maior profundidade, e Miguel, de 9 anos, pulou na água para resgatá-lo, e os dois acabaram morrendo. Eles eram, respectivamente, sobrinho e tio.
Outro caso foi Antônio Henrique, de 42 anos, que morreu afogado agosto deste ano em um igarapé na comunidade da Foz do Paraná dos Mouras, no município de Rodrigues Alves, no interior do Acre. Segundo informações repassadas para a Polícia Militar do Acre (MP-AC), o pai da vítima de 83 anos saiu para procurar o filho no igarapé ao perceber que ele estava demorando a retornar e ao chegar no local, encontrou o corpo do filho já submerso na água.
Em setembro, um adolescente de 13 anos, identificado como Vanderson da Conceição Gomes, morreu afogado ao tentar atravessar o Rio Iaco, em Sena Madureira, interior do Acre. Com ajuda de populares, os bombeiros acharam o corpo do adolescente horas após o sumiço no manancial.
No início de outubro, o jovem Cauã Ricardo Nascimento Silva, de 19 anos, sumiu nas águas do Rio Acre em um banho conhecido como Cachoeira do Abraão, em Porto Acre. Ele foi achado dois dias depois das buscas realizadas pelo Corpo de Bombeiros.
Nove dias depois, o jovem Eduardo Lima Silva, de 19 anos, também morreu afogado no mesmo lugar, em Porto Acre . Os populares informaram aos bombeiros que o jovem tentava fazer a travessia do rio com amigos, quando em determinado momento, se cansou e começou a se debater.
No último dia 15 de outubro, o adolescente Vitor Páscoa da Silva, de 12 anos, morreu afogado enquanto nadava no Rio Juruá, em Cruzeiro do Sul, no interior do Acre. A mãe da vítima relatou aos bombeiros que o menino tinha acabado de almoçar quando um primo e um amigo o chamaram para tomar banho no porto. O menino foi achado com uma linha de rede de pesca enrolada em seu braço.