O Acre todo está em estado de emergência, a partir de decreto do Governo do Estado publicado no início de janeiro, por conta do avanço dos casos de arboviroses, mais especificamente dengue, zika e chikungunya.
Só em 2024, em todo o estado, entre as semanas epidemiológicas 1 e 52, foram registrados 6.031 casos prováveis de dengue — um aumento de 13,3% na comparação com o ano de 2023, quando foram registrados 5.321 casos prováveis. No final do ano passado, uma pessoa morreu por conta da doença e outro óbito segue em investigação.
No ano passado, o Acre foi o 13º estado em incidência de dengue no Brasil e o segundo maior da região Norte, ficando atrás apenas do Amapá.
Na última quinta-feira (23), a Prefeitura de Rio Branco informou que mais de 800 notificações de casos suspeitos de dengue foram registradas nos últimos 15 dias, o que fez com que a capital também decretasse situação de emergência.
Onze municípios apresentam maior número de notificações, sendo Cruzeiro do Sul, Rio Branco e Epitaciolândia os mais afetados. Entre os casos suspeitos de dengue no ano passado, 24 evoluíram com sinais de alarme, indicando risco de complicações graves.
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Um fator de atenção tem colocado em alerta os estados de São Paulo, Minas Gerais, Amapá, Paraná e Rio de Janeiro, pois lá já foram registrados casos do sorotipo 3 do vírus da dengue, que não circulava no Brasil há 17 anos. O Acre, por enquanto, está livre, com apenas os sorotipos 1 e 2 em circulação.
“Sabe-se que a infecção pelo sorotipo 3 da dengue, quando ocorre após uma infecção anterior pelo sorotipo 1, tende a causar sintomas mais graves. E uma parte significativa da população sem imunidade para a dengue 3 foi recentemente infectada pela 1”, afirma o virologista Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), em entrevista concedida ao Estadão.
O sorotipo 3 que circula hoje no Brasil é de uma linhagem diferente daquela dos anos 2000, praticamente extinta. Segundo especialistas, é provável que ela tenha vindo da região do Caribe, que, por sua vez, importou o sorotipo do continente asiático. “O vírus foi importado. Ele estava saindo do Brasil e nós o trouxemos de volta”, diz Nogueira.
É provável que alguém na região tenha contraído a doença, vindo para o Brasil e, aqui, tenha sido picado por um Aedes aegypti. “Assim a coisa toda começa. E isso explica como ele reapareceu”, resume o infectologista. A variante foi detectada pela primeira vez em Roraima, em 2023, e desde então tem se espalhado para outros estados.
Como uma nova variante costuma tomar o espaço das anteriores, os especialistas não descartam que a DENV-3 se torne predominante em algum momento.
“É um fenômeno de alternância”, diz Fernando Spilki, virologista da Universidade Feevale e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vigilância Genômica de Vírus e Saúde Única. “A imunidade que se forma em um ano pode alterar a disseminação dos vírus que vão aparecer no ano seguinte”, acrescenta.
fonte: contilnet