Três empresas de ônibus que operam em Rio Branco estão com as atividades paralisadas a partir deste domingo (16). Sindicol alega que pandemia reduziu circulação de passageiros e os empresários não conseguem manter as frotas circulando.
Terminal Urbano, Rio Branco, está vazio neste domingo (16) — Foto: Hugo Costa/Rede Amazônica Acre
A crise no transporte coletivo de Rio Branco ganhou um novo capítulo neste domingo (16). Alegando falta de diesel para operar, os empresários suspenderam a frota e deixaram a população sem ônibus a partir deste domingo.
O Sindicato dos Transportes do Acre (Sinttpac) informou que a decisão partiu da gestão das três empresas que operam na capital acreana. Segundo os empresários, não há diesel e outros insumos para circulação dos ônibus.
“Lamento muito em dizer, mas com essa decisão deles, que de forma arbitrária paralisaram 100% da frota sem sequer comunicar os órgãos, instituições, imprensa e a própria RBTrans, não merecem continuar aqui. Empresários que nunca cumpriram um TAC (Termo de Ajuste de Conduta), junto ao Ministério Público, não estão preocupados com mais nada. Estão acostumados a fazer do jeito deles, mas agora com prefeito Tião Bocalom, com o acompanhamento da RBTrans, eu acredito que será uma grande oportunidade de nos livrarmos deles para que outras empresas, possam vir e prestar um serviço de qualidade, com pontualidade e respeito aos colaboradores e usuários do serviços de transporte”, disse o presidente do Sinttpac, Francisco Marinho.
Atuam no sistema de transporte da capital as empresas Auto Viação Floresta e o Consórcio Via Verde, formado pelas empresas São Judas Tadeu e Via Verde, conforme contrato 004/2004.
A suspensão foi anunciada à Superintendência de Transporte e Trânsito de Rio Branco (RBTrans) na última sexta-feira (14). No documento, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo (Sindcol) informou que, por conta a pandemia, a ‘movimentação de passageiros por viagem não cobre minimamente os custos que as empresas precisam dispor para que os ônibus façam a sua rota completa, não havendo simetria entre os gastos por viagem suportado com a quantidade de passageiros transportados durante as mesmas viagens’.
Ônibus não saíram da garagem neste domingo (16) em Rio Branco — Foto: Arquivo pessoal
O presidente do Sindicol, Aluízio Abate, explicou que os empresários precisam de um ajuda financeira do poder público para continuar operando. Além da redução de passageiros, Abate afirma que os custos dos insumos aumentou muito, a exemplo do valor do diesel que custava pouco mais de R$ 3 e subiu para mais de R$ 6.
“Não tem insumos, não tem óleo diesel, a receita não está cobrindo o valor do diesel. Oficializamos na sexta-feira [14] um ofício na RBTrans e na prefeitura via e-mail e estamos aguardando uma resposta e tivemos ainda. Paralisamos 100%”, destacou.
A assessoria de comunicação da Prefeitura de Rio Brano afirmou que o prefeito Tião Bocalom vai se posicionar sobre a paralisação apenas nesta segunda-feira (17).
‘Linhas abandonadas’
No último dia 10, a Prefeitura de Rio Branco determinou que duas das empresas que operam na capital fiquem responsáveis por 11 linhas que foram “abandonadas” pela empresa Auto Viação Floresta.
Em dezembro do ano passado deixaram de circular ônibus de pelo menos oito linhas (Amapá; Seis de Agosto/Judia; Belo Jardim I e II; Irineu Serra; Bahia/Carandá; Cabreúva/Aeroporto Velho; Floresta; Wanderley Dantas). E, na última sexta-feira (7), mais três pararam de funcionar.
Ao todo, Rio Branco possui 42 linhas, sendo que dessas, 31 ficavam sob responsabilidade da empresa Auto Viação Floresta e, segundo a RBTrans, a empresa “abandonou” 11 dessas linhas. Com a convocação para que as outras duas empresas atendam a essa demanda, agora o Consórcio Via Verde passa a operar em 22 linhas.
11 linhas de ônibus chegaram a ser suspensa em Rio Branco no início do ano — Foto: Lidson Almeida/Rede Amazônica
Intervenção e situação de emergência
Após decretar situação de emergência no transporte público, o prefeito Tião Bocalom publicou, em dezembro do ano passado, o decreto de intervenção operacional e financeira no Sistema Integrado de Transporte Urbano de Rio Branco (Siturb) e no Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo do Estado do Acre (Sindicol).
O decreto, publicado no Diário Oficial do Estado (DOE), tem validade de 120 dias e pode ser prorrogado por igual período. Durante estes quatro meses de transição, determina que as empresas são obrigadas a manter as frotas em circulação.
“A intervenção ocorre pelo descumprimento das concessionárias no adimplemento de suas obrigações tributárias, previdenciárias e trabalhistas, bem como as péssimas condições de prestação dos serviços e afasta toda e qualquer ingerência do Sindicol ou das concessionárias na administração dos bens e serviços prestados pelo Sindicol e faculta a requisição pelo município, de todo acervo material, bem como de todo pessoal necessário à execução eficiente do sistema de geração de créditos, venda, recebimento, controle e repasse dos créditos tarifários do Siturb”, diz o decreto.
Com essa suspensão, Tião Bocalom decretou situação de emergência e anunciou contratação de outras empresas para prestar o serviço em Rio Branco.
O motivo da retirada dos carros, segundo o Sindicato dos Transportes do Acre (Sinttpac), seria por falta de diesel e as linhas não estão sendo suficientes para pagar o combustível.
Moradores enfrentam espera de até duas horas — Foto: Ana Paula Xavier/Rede Amazônica Acre
Crise no transporte público
A crise no transporte público em Rio Branco se arrasta desde 2020. Assim que assumiu, Bocalom afirmou que não iria repassar nenhum valor extra para as empresas de ônibus que atuam na capital e que elas deveriam arcar com os prejuízos que tiveram durante a pandemia.
O posicionamento do prefeito se deu porque a gestão anterior, de Socorro Neri, chegou a cogitar o pagamento de um aporte financeiro de R$ 2,5 milhões para essas empresas.
Após essa decisão de Bocalom, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo do Acre (Sindcol) chegou a entrar com uma ação para tentar receber o valor, mas a Justiça do Acre indeferiu o pedido.
Em meio à essa crise, motoristas de ônibus fizeram protestos, paralisaram atividades e a população precisou buscar outras alternativas para o transporte. No entanto, após várias manifestações, os trabalhos da categoria foram retomados.
Em setembro deste ano, os vereadores começaram os trabalhos de escolha dos membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do transporte público municipal. A CPI, que é responsável por apurar os problemas relacionados ao transporte na capital, só deve ser retomada em 2022.
Na última semana, os motoristas de ônibus fizeram uma paralisação, no Terminal Urbano. A categoria alegava que estar com os salários dos meses de outubro, novembro e décimo terceiro atrasados. O serviço só foi normalizado apenas na parte da tarde.
Redução de passagem e aporte
Em outubro de 2021, o novo valor da passagem de ônibus foi para R$ 3,50. A tarifa foi reduzida após indicação do Conselho Municipal de Transportes Públicos do Município de Rio Branco e a sanção do prefeito Tião Bocalom.
A lei sancionada dependia da aprovação de um outro projeto, que ocorria de forma paralela, e foi publicado na semana passada. A lei que autoriza o repasse de mais de R$ 2,4 milhões para as empresas de ônibus para o pagamento em atraso dos trabalhadores.
fonte: g1acre