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Tensão crescente entre China e Taiwan leva Japão a militarizar ilha isolada do Pacífico

ByEdnardo

abr 22, 2022

O risco de Taiwan ser invadida pela China colocou o Indo-Pacífico em alerta nos últimos meses. Inserido nesse contexto e temendo uma operação militar em larga escala por parte de Beijing, o Japão decidiu fortalecer sua presença militar na isolada ilha de Yonaguni, perto das ilhas Senkaku, que são alvo de uma disputa territorial entre japoneses, chineses e taiwaneses. As informações são da rede CNN.

 

A ilha Yonaguni fica a cerca de 110 quilômetros de Taiwan. Ocupada pelos EUA durante a Segunda Guerra Mundial, ela foi devolvido ao controle japonês em 1972 e hoje tem importância estratégica para a China devido à proximidade com Taiwan, que Beijing reivindica como parte de seu próprio território.

A presença de embarcações da marinha chinesa na costa japonesa não é novidade, mas tem aumentado nos últimos anos. Há cerca de 20 anos, Tóquio costumava registrar anualmente cerca de 20 navios militares da China perto de sua costa. Hoje, esse número quase quadriplicou, tendo chegado a 71 em 2021, além de mais 30 barcos da Guarda Costeira chinesa que patrulharam região.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores chinês, a presença de barcos de patrulha são “um exercício adequado do direito soberano da China”.

Os cerca de dois mil habitantes da ilha enxergam a beligerância com apreensão. E a presença chinesa na área já causou alguns incidentes, como o relatado por Kazushi Kinjo, pescador local que foi abordado por uma patrulha perto das desabitadas ilhas Senkaku.

“A proa de um de seus navios estava apontada diretamente para nós, e eles estavam nos perseguindo. Não tenho certeza, mas também vi o que pareciam ser canhões”, disse Kinjo. “Fui interceptado com muita força. Às vezes eu ia lá (em Senkaku) e eles me cercavam, e eu os evitava porque era perigoso, e então eles me cercavam novamente”.

Para os pescadores, um dos temores é Beijing restringir a pesca na região, o que comprometeria a principal fonte de renda de muitos moradores de Yonaguni. O outro é o de que a ilha no futuro seja também reivindicada pela China. “Olhando para os movimentos atuais da China, tenho uma forte sensação de crise de que esta ilha acabará por deixar de ser o Japão”, afirmou Kinjo.

Shigenori Takenishi, chefe da cooperativa de pesca de Yonaguni, diz que, na queda de braço entre Tóquio e Beijing, a maior esperança é o apoio dos EUA, com quem o Japão tem um pacto mútuo de defesa. “Acredito que a única maneira de fazer isso é trabalhar em estreita colaboração com os EUA sob a Lei do Tratado de Segurança Japão-EUA e aumentar muito mais as capacidades de defesa do próprio Japão”, afirmou.

Reflexo da guerra

A situação tem piorado desde invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro. A guerra colocou em alerta Tawian, temerosa de que a China venha a aproveitar o momento para emular Moscou e invadir a ilha autogovernada. Algo que reflete diretamente em Yonaguni, que ficaria no meio do fogo cruzado em caso de uma guerra na Ásia.

“A invasão militar da Rússia à Ucrânia me deixou preocupado com o futuro de Taiwan e da Ilha Yonaguni”, disse Michiko Furumi, que tem um pequeno restaurante na ilha japonesa. “Eu realmente me preocupo com o futuro dos meus netos”.

Segundo Yoko Iwama, especialista em relações internacionais e segurança do Instituto Nacional de Pós-Graduação de Estudos Políticos, o país é militarmente vulnerável e precisa se fortalecer nesse sentido. “Não temos mais capacidade (de ataque) e definitivamente precisamos disso. Que tipo, ou quantos, temos que começar a discutir. Mas está muito claro que o que temos atualmente não é suficiente”, disse.

Oficiais da Força de Autodefesa concordam com a análise. Eles destacam que os atuais sistemas de defesa antimísseis do Japão só podem engajar um alvo quando ele estiver dentro do alcance de cerca de 50 quilômetros. O problema é que a China tem mísseis que podem ser lançados de uma ampla gama de aviões de guerra a distâncias de até 300 quilômetros.

Some-se a isso as limitações de defesa impostas pela constituição japonesa no pós-guerra, e Tóquio tem um problema. Assim, o primeiro-ministro Fumio Kishida tem explorado alternativas que permitam ao governo fortalecer seu sistema de defesa, e instalar bases nas ilhas surgiu como uma alternativa viável.

Tóquio instalou em 2016 uma base militar em Yonaguni, hoje com 160 soldados encarregados da vigilância costeira. Três anos depois, as ilhas vizinhas de Amami Oshima e Miyakojima também receberam postos militares. E uma quarta instalação semelhante está sendo construída na ilha Ishigaki, com previsão de funcionar a partir de 2023 com 600 soldados.

“Devemos proteger a todo custo a soberania territorial de nosso país. E precisamos enviar nossa mensagem de que defenderemos firmemente nosso país”, disse o general Yoshihide Yoshida, chefe do Estado-Maior da Força de Autodefesa Terrestre do Japão (GSDF).

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês. Diante da aproximação entre Taipé e Washington, desde 2020 a China endureceu a retórica contra as reivindicações de independência da ilha.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.

Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra“.

O embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho de 2021. O documento taiwanês pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala, justamente por se tratar de uma ilha. Já segundo o Pentágono, isso “provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”.

Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os relatórios reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação. O bloqueio sufocaria a ilha, criando uma reação internacional semelhante àquela que seria causada por uma eventual ação militar.

Em artigo publicado em novembro, Michael Beckley e Hal Brands alertaram que o tempo está se esgotando para frear o ímpeto belicista chinês. “Os sinais de alerta históricos da China já estão piscando em vermelho. Na verdade, ter uma visão de longo prazo de por que e sob quais circunstâncias a China luta é a chave para entender o quão curto o tempo se tornou para os Estados Unidos e os outros países no caminho de Beijing”.

Por A Referência

By Ednardo