Um terreiro em Sobradinho costumava ser conhecido pela música forte, por batuques envolventes e por receber pessoas de longe em busca de cura espiritual. Líder do espaço, o pai de santo Leandro Mota Pereira, conhecido como Pai Leandro de Oxóssi, era uma figura respeitada – ou temida.
Isso porque, entre maio de 2024 e junho deste ano, um sussurro virou grito, e cinco mulheres, de 17 a 30 anos, romperam o silêncio para denunciar o mesmo algoz: aquele a quem chamavam de “pai”. Todas disseram que foram estupradas por Leandro, em um local que deveria ser sagrado.
O caso, revelado pela coluna Na Mira no domingo (3/7), é investigado pela Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) 1, na Asa Sul.
As vítimas ainda relataram que, durante os estupros, o líder religioso dizia estar possuído pela entidade conhecida como Zé Pelintra, figura popular em religiões de matriz africana, e alegava que os crimes sexuais faziam parte de um processo espiritual de “cura” ou “libertação energética”.

Vinícius Schimidt/Metrópoles
Relatos das vítimas e modus operandi
Em todos os relatos, o padrão de Leandro era o mesmo: uso de pretexto religioso, manipulação emocional e rituais em que as vítimas ficavam vulneráveis, isoladas e sem possibilidade de pedir socorro. “Ele dizia que um orixá havia me escolhido, que meu corpo era um canal de energia e que o sexo era necessário para me libertar dos maus espíritos”, contou uma das vítimas.
Assista ao primeiro depoimento:
Em um dos casos a que a coluna Na Mira teve acesso, uma mulher foi convencida a dormir na propriedade rural onde ficava o terreiro, com o casal de filhos – entre eles, uma adolescente de 17 anos, que também denunciou o pai de santo por crime de violência sexual, em maio de 2024.
Quando a jovem passou a dormir no local, Leandro costumava oferecer chá e suco a ela. No entanto, pelas manhãs, a vítima acordava com cólicas e sangramentos ininterruptos. Em uma dessas noites, o pai de santo entregou uma das bebidas à adolescente, que tomou apenas um gole. No meio da madrugada, ela acordou com o religioso nu, deitado sobre ela.
Ao perceber que a vítima estava consciente, o pai de santo teria tampado a boca dela com as mãos, para evitar que a garota gritasse, e cometido o estupro. No dia seguinte, Leandro a teria ameaçado e dito que, se ela contasse sobre o crime para alguém, o irmão dela iria “pagar”, pois o líder religioso “faria macumba” para matar o garoto. Assim, os estupros continuaram por semanas. Em diversas oportunidades, o pai de santo teria sussurrado no ouvido da jovem “O Zé [Pelintra] me falou que você quer” e, logo depois, cometido a violência sexual.
Outros depoimentos e a versão do acusado
Os relatos das vítimas também dão conta de que o pai de santo buscava por mulheres “suscetíveis” aos ataques e que apresentassem “sinais de vulnerabilidade” ou “facilidade para serem manipuladas”.
Outra vítima, que procurou a umbanda em busca de cura, proteção espiritual e apoio emocional, contou que, após três meses de idas ao terreiro, começou a receber mensagens de Leandro pelo WhatsApp, com convites para ir à loja de artigos religiosos que ele tinha. Quando foi ao estabelecimento, a vítima ouviu do pai de santo que ele precisava “ensiná-la algo”. Direto, o suspeito teria dito: “Vamos começar a transar, e ninguém vai ver”.
Assista ao segundo depoimento:
À Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) ela relatou que o religioso a obrigou a ter relações sexuais com ele por semanas a fio, dentro dessa loja e na casa dela. Controlador, Leandro ameaçou a vítima com afirmações de que havia “hackeado o celular” dela e, por isso, conseguia ver todas as mensagens enviadas ou recebidas. Durante um dos estupros, o religioso ainda teria amarrado as mãos da mulher e usado um cinto para agredi-la. Em perigo, ameaçada e perseguida, a vítima decidiu mudar de cidade e de telefone para se proteger.
Assista ao terceiro depoimento:
Procurado pela coluna Na Mira, Leandro negou as acusações. “Eu nunca tive qualquer relação sexual, consentida ou não, com essa pessoa, jamais dopei ninguém com chá ou qualquer outra bebida. Ela passava os fins de semana no terreiro para ritos religiosos e estava sempre acompanhada de outros filhos de santo. Em momento algum ficou sozinha comigo. Nunca, jamais houve estupro ou tive qualquer outro envolvimento com essa pessoa”, defendeu-se. O acusado também disse que nunca recebeu na loja de artigos religiosos qualquer mulher para “ensinar algo a ela” ou pediu para ter relação sexual com alguém nesse local. “Nunca fiquei sozinho com qualquer mulher na loja, muito menos mantive relação sexual com alguém lá. Ao frequentar casas dos filhos de santo, sempre estou acompanhado de minha esposa, de amigos e de filhos de santos antigos”, alegou.
Assista ao quarto depoimento:
Sobre a acusação de perseguição, Leandro disse que “jamais ameaçou ou hackeou” o celular de alguém, pois “nem mesmo” sabe fazer isso. “Nunca amarrei, agredi ou estuprei qualquer mulher”, finalizou.
Fonte: Coluna Na Mira, Metrópoles
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