Reportagem falou com especialistas no país e selecionou obras que ajudam brasileiros a entender o contexto belarusso
por Cristiane Noberto
Em meio à herança da União Soviética e uma conexão profunda com a Rússia, Belarus recebeu a alcunha de “última ditadura da Europa” por seu isolamento político, fruto da política forjada pelo presidente Aleksander Lukashenko, no poder desde 1994.
Desde as eleições de agosto de 2020, o país vive ondas de protestos que pleiteiam novas eleições e a implantação de um regime democrático. A parcela dos belarussos que foi às ruas alega fraude no pleito, que rendeu uma sexta vitória a Lukashenko.
Para entender o contexto democrático, cultural e histórico do país, A Referência pediu dicas de filmes e livros para os especialistas Paterson Franco Costa, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e Volha Yermalayeva Franco, professora dos idiomas belarusso e russo e mestranda da mesma universidade.
Pode preparar a pipoca: o resultado é uma lista com curadoria da comunidade belarussa, que ajuda os brasileiros a conhecerem melhor a história, a demanda por democracia e o dia a dia do país.
Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Miron Zakharka, músico e militante belarusso condenado a servir ao Exército na fronteira com a região radioativa de Chernobyl. No quartel, Miron e seus colegas sofrem agressões e humilhações e são proibidos de falar belarusso. Os jovens criam um blog clandestino, com ajuda da companheira Vera, para denunciar o que viveram. Miron ganha fama e participa das eleições para flagrar fraudes, o que leva a população a protestar nas ruas.
Documentário sobre o encarceramento das milhares de mulheres que participaram das manifestações pacíficas contra as fraudes nas eleições presidenciais de 2020. Participantes dos protestos, detidas e agredidas pelas forças do regime de Lukashenko, as mulheres contam suas histórias ao longo do período.
Ciclo de desenhos animados belarussos produzidos com a técnica de vytsinanka, arte tradicional belarussa de papel recortado. As animações abrangem temas tradicionais da cultura belarussa, como provérbios, histórias e costumes.
Minissérie dividida em oito capítulos. Financiada pelo Fundo Global de Combate à AIDS, a obra conta a história de Nikita, músico belarusso soropositivo, e trata questões como amor, amizade e fidelidade. A trilha sonora é composta por bandas e artistas de destaque na cena musical do país.
Documentário sobre a resistência estudantil contra o regime de Lukashenko, que ordenou o encerramento de escolas de língua belarussa e perseguição a dissidentes em todo o país. Abrange as manifestações populares contra as fraudes nas eleições presidenciais de 2006, também reprimidas pelas forças policiais.
Estudo sobre a adaptação cinematográfica do diário do ativista belarusso Franak Viachorka para o filme Viva Belarus! (2012). Além dos protestos contra as fraudes nas eleições presidenciais de 2010, retratados no filme, o volume explica a resistência belarussa contra o autoritarismo dos tempos soviéticos ao regime atual.
Aleksiévitchfoi a primeira escritora belarussa a ganhar o Nobel de Literatura, em 2015, pelo ciclo Vozes da Utopia. A série é composta por cinco livros: A Guerra não Tem Rosto de Mulher (1985), As Últimas Testemunhas (1985), Meninos de Zinco (1989), Vozes de Tchernóbil (1997) e O Fim do Homem Soviético (2013). Todos foram traduzidos para o português pela Companhia das Letras entre 2016 e 2020.
Os livros trazem relatos das pessoas que sobreviveram às grandes tragédias que atingiram Belarus e outras regiões da URSS, como a Segunda Guerra Mundial, o desastre nuclear de Chernobyl, em 1986, a guerra no Afeganistão entre 1979 e 1989 e o fim do regime, em 1991.
Belarusso de origem polonesa, o jornalista Kapuscinski relata suas viagens pelas repúblicas da antiga URSS ao longo de meio século. Publicado após a derrocada do bloco soviético, o livro tem reflexões sobre os motivos que levaram ao colapso do país e o surgimento das atuais quinze repúblicas independentes em seu lugar, incluindo Belarus.
O título do capítulo é referência à frase atribuída ao líder mexicano Porfirio Díaz, “pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos EUA”. O doutor em Relações Internacionais e professor da UFRGS Fabiano Mielniczuk faz um relato detalhado das relações de poder entre Belarus e Ucrânia com a Rússia e o Ocidente.
No livro “Struggle over identity” (Luta pela identidade, ainda sem tradução para português), Nelly Bekus, socióloga belarussa e professora da Universidade de Varsóvia, Polônia, realiza um estudo comparativo dos discursos identitários belarussos: o oficial, de orientação soviética e defendido pelo regime de Lukashenko, e o alternativo, de inspiração pré-soviética e pró-Ocidente.
fonte: a preferencia.com