Uma escultura de um minotauro de cerca de 1,5 metro que foi visto no fundo do lago Mari Menuco no fim de março veio assustando turistas e moradores da cidade de Neuquén, na Argentina, nos últimos meses.
“Passamos por várias emoções. Medo, espanto, expectativa…”, contou no domingo (22) um homem de 23 anos identificado pelo jornal local LMNeuquén sob o pseudônimo Cristian, que passeava de caiaque pelo lago no dia 10 de abril, junto com sua família, quando viu o Minotauro pela primeira vez.
“E lá eu o vi, ele era um minotauro. Primeiro, eu estava com medo. Há muitos mitos sobre a água e todos nós rimos, mas acho que há algo verdadeiro. Ou, pelo menos, naquela época todas as dúvidas que eu tinha sobre seres sobrenaturais foram confirmadas”, brincou Cristian à publicação.
Depois de chegar à costa, ele chamou um primo, de 18 anos, que voltou com ele ao local onde viu a escultura. Juntos, eles decidiram se jogar na água e tentar chegar o mais próximo possível dela. “Eu vi seu rosto assustado e ri. Disse a ele ‘você viu que não acreditava em mim, aí está’ e ele se soltou um pouco”, relembrou.
https://twitter.com/LMNeuquen/status/1528378828325806080?t=Dfiyt6lrZRZ_7obAo5M2uw&s=09
Nenhum dos dois conseguiu tocar ou mover a obra do lugar. “Mas conseguimos contemplá-lo e essa é a parte boa. Depois daquele dia, eu me tornei fã de água”. Cristian ficou tão obcecado com a criatura estranha no fundo do lago que voltou ao local nos fins de semana seguintes e encontrou-o em companhia de outro elemento, uma máscara. Por isso, ele embarcou em uma pesquisa para descobrir a origem daquelas imagens.
Cristian, assim como a reportagem do LMNeuquén, descobriram então um antigo conceito local, parte da cultura mapuche: gen ko, uma espécie de energia ou entidade protetora da água, para quem os antigos nativos pediam permissão antes de entrar em contato com este elemento da natureza. Segundo ainda os mapuche, estes seres mitológicos apareceriam quando o ambiente é ameaçado.
Após dias de especulações na imprensa argentina, a equipe do jornal encontrou na terça (24) dois artistas locais, que preferiram manter sua identidade sob sigilo, e se responsabilizaram pelas peças. Eles revelaram à publicação que instalaram o minotauro em 19 de fevereiro de 2022, com testemunhas, mas não quiseram assumir a autoria. “O importante aqui são as obras e não nós”.
A dupla contou com o auxílio de um terceiro amigo, que ajudou a projetar tanto o minotauro quanto a máscara digitalmente em 3D, antes de sua construção. Um dos artistas, sob o pseudônimo de Eduardo, revelou que eles planejavam a instalação desde dezembro de 2021, mas foi apenas depois de conversar com um amigo da comunidade mapuche local que decidiram qual seria a escultura.
Eles procuravam por um ser sobrenatural que protegesse as águas de Mari Menuco, com o propósito de fazer um alerta ambiental.
“Obras submersas, além de serem uma desculpa para o mergulho, são uma marca. Elas serão capazes de expor as mudanças climáticas porque hoje estão a quatro metros do nível da água, mas com este nível de seca, é possivel que a curto ou longo prazo, as esculturas não estejam mais debaixo d’água”, explicou. Fim do mistério.